01
No lado nordeste da cidade, há uma casa.
A casa já foi mágica, cheia de amor, alegria e planos para o futuro.
Dentro de suas paredes há muitas coisas que me pertencem - meus livros, a porcelana que ganhei da minha mãe no dia do meu casamento, a bela gaiola que já foi lar de dois pássaros e que agora está vazia, assim como eu.
E um homem.
Um homem que também me pertence.
Um homem que já não desejo mais manter.
Um homem que, sem dúvida, não dormiu, embora o sol já esteja nascendo. Porque a casa onde ele espera é onde dormi todas as noites à oito anos. Até ontem à noite.
Ninguém que me conhece acreditaria que Charlie Pierce, a garota quieta e leitora assídua que nunca dava o que falar estava saindo da garagem de um homem que não é o seu marido.
Mas eles não me conhecem.
Nem mesmo eu me conheço.
Não mais.
Dizem que há dois lados em cada história e, na maioria dos casos, suponho que isso seja verdade. Mas essa que eu vivo? Tem três.
No lado nordeste da cidade, há uma casa.
Mas não há mais um lar.
02
Esquerda ou direita.
Isso é bem simples, exceto que não é tão fácil assim.
Se eu virar à esquerda, a estrada me levará de volta ao homem a quem prometi minha vida, aquele com quem imaginei construir uma família, aquele que fez tudo ao seu alcance para me trazer de volta.
Se eu virar à direita, a estrada me levará ao homem que eu amei primeiro, o homem que me trouxe de volta à vida, o homem que faria qualquer coisa para me manter.
Eu sabia que a bifurcação na estrada era inevitável; era a decisão que eu nunca quis fazer entre escolhas que eu não sabia que tinha.
E eu amo os dois.
Meu coração está destinado a existir com duas metades iguais - uma com cada homem. Mas a metade que bate mais forte - com a veia correndo mais fundo - mantém minha escolha em silêncio muito antes de eu saber por mim mesma.
A percepção do que eu tenho que fazer e do coração que tenho que partir, só pode quebrar o meu também.
Esquerda ou direita.
Tudo o que preciso fazer é respirar fundo e virar.
03
Eu nunca aprendo minha lição.
E sempre quero o que não posso ter.
Quando Sarah Henderson entra na minha vida, digo a mim mesmo que ela está fora dos limites. Ela é minha aluna, dezesseis anos mais nova do que eu, e sobrinha do meu chefe. Não importa que eu veja a mesma dor refletida em seus olhos que tenho nos meus, ou que o órgão morto, mais conhecido como meu coração, ganhe vida quando ela está por perto.
Já estive aqui antes e sei como isso acaba.
Já se passaram dois anos desde que eu me apaixonei pela última mulher que sabia que não poderia ter, aquela com a aliança no dedo que optei por ignorar.
Dois anos tentando superar aquela dor no coração, quando Sarah entra na minha vida.
Outra mulher que não posso ter. Outra mulher que eu não consigo deixar de desejar.
Nunca aprendo minha lição, mas com um lembrete constante de como aquele último amor proibido queimou, eu acho que finalmente aprendi isso.
Desta vez, não vou perseguir o que está fora dos limites.
Desta vez, vou ficar longe.
E vou continuar dizendo isso a mim mesmo até eu acreditar.
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